terça-feira, 7 de outubro de 2008

Rascunhos (toscos) sobre amoras.

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Amora manchou o branco lençol
Escorregou por meus dedos
- Me lembrou minha infância.

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Cingiu de púrpura meus lábios e a ponta do indicador direito. Meus olhos apreendem os detalhes- bolinhas unidas, minúsculas, em uma só estrutura. " Como uma árvore tão grande pode dar frutos tão pequenos?" indagava eu menina.
A língua reconheceu o gosto, arrepio gostoso pelo corpo: o ouvido temente da palavra NAMORO.
Amor, amora.
Quero namorar com as frutinhas, flertar com os longos galhos da árvore ( progenitores do meu medo de quedas). Foram eles os acolhedores da minha fúria adolescente, dos meus desejos de fugir de casa e da minha primeira paixão - as folhas secaram minha saudade sem medida e a desilusão, sem saída.Hoje são da minha preguiça.
Meus filhos, tenho certeza, virão sem as minhas manchas e descobrirão as suas próprias debaixo da amoreira, desbravarão os sentidos em suas raízes.
A vida em espiral.
Jamais contarei ao pai deles suas desventuras amorosas, ou então assim o farei e morderei na risada o gosto da minha infância. As palavras veementes e alegres do meu pai ainda ecoam: " Kakau, quer amora?! Vou contar pro seu pai que você namora!", depois em pontas de pés, toda envergonhada, tentando alcançar sozinha o fruto mais saboroso era embalada por um timbre macio a cantarolar. " Amora, amorinha, quero uma amora para minha filhinha!"
Espero ainda a sombra, meus filhos, meu pai, vivo!!! Para repetir com os netos as proezas que fez com a filha. Minha espiral progredirá, enquanto isso ensaio um sorriso cálido para a minha árvore preferida.

3 comentários:

Fernanda Magalhães disse...

Linda!

Obrigada pela visita...Sobre a amora, adoro!!

Beijos de luz!

Felipe Lima disse...

Não me lembro de ter provado.

Beto Canales disse...

Gosto de amora e de amor.