quinta-feira, 9 de outubro de 2008

" Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo."

Carlos Drummond de Andrade,
trecho de "As sem-razões do amor"

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A garota era quieta, bonita, usava sempre algo de vermelho, sentava-se entre o meio e o fim da sala de aula, arrastava um sotaque nordestino e andava desfilando.
Primeira vista era pura futilidade, roupa da moda, cabelos escorridos... Nas aulas de penas umas duas vezes o professor chamou sua atenção, pois segundo ele lixar unhas não fazia ninguém aprender!
Detalhe: entrega de provas. A garota antes leviana e estereotipada tirou SS!!!
Hoje tivemos uma surpresa, o professor trouxe sessenta lixas, umas pretas outras amarelas e distribuiu para a turma, disse que tinha encontrado a solução para aumentar a nota!!!
Vou começar a cuidar mais das unhas pra ver se recompenso meu MM injustificável, a não ser pelas prioridades desmedidas.

Rascunhos (toscos) sobre amoras.

*

Amora manchou o branco lençol
Escorregou por meus dedos
- Me lembrou minha infância.

**

Cingiu de púrpura meus lábios e a ponta do indicador direito. Meus olhos apreendem os detalhes- bolinhas unidas, minúsculas, em uma só estrutura. " Como uma árvore tão grande pode dar frutos tão pequenos?" indagava eu menina.
A língua reconheceu o gosto, arrepio gostoso pelo corpo: o ouvido temente da palavra NAMORO.
Amor, amora.
Quero namorar com as frutinhas, flertar com os longos galhos da árvore ( progenitores do meu medo de quedas). Foram eles os acolhedores da minha fúria adolescente, dos meus desejos de fugir de casa e da minha primeira paixão - as folhas secaram minha saudade sem medida e a desilusão, sem saída.Hoje são da minha preguiça.
Meus filhos, tenho certeza, virão sem as minhas manchas e descobrirão as suas próprias debaixo da amoreira, desbravarão os sentidos em suas raízes.
A vida em espiral.
Jamais contarei ao pai deles suas desventuras amorosas, ou então assim o farei e morderei na risada o gosto da minha infância. As palavras veementes e alegres do meu pai ainda ecoam: " Kakau, quer amora?! Vou contar pro seu pai que você namora!", depois em pontas de pés, toda envergonhada, tentando alcançar sozinha o fruto mais saboroso era embalada por um timbre macio a cantarolar. " Amora, amorinha, quero uma amora para minha filhinha!"
Espero ainda a sombra, meus filhos, meu pai, vivo!!! Para repetir com os netos as proezas que fez com a filha. Minha espiral progredirá, enquanto isso ensaio um sorriso cálido para a minha árvore preferida.

domingo, 5 de outubro de 2008


Tenho medo de me afogar nos meus medos.

Foto por Kauê R.