quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um quê de confissão.




No canto esquerdo dos lábios pairava o desejo contido:
Te morder com meu impulso de fêmea - efêmera .
Ninguém sabia ou desconfiava
- Por de trás da aparência dócil
Uma fera havia:
Não suportava tuas escassas visitas.
Consumiria seus sonhos dia a dia.

Toda mulher tem dentro de si uma puta:
De pernas abertas quer abarcar o mundo.
Toda mulher tem dentro de si uma virgem:
Espera amor em demasia.

Minha teimosia me joga pra cima de ti
Te arranha e inebria.

No quarto escuro
A voz pigarreia
Há o medo de não te ter por perto
Cair de joelhos e ser escorraçada.

Debaixo da escada deixei uma violeta
Meu pijama e minha escova de dentes
Dentro da fantasia sou tua escrava.
Vem, escuta, faz de mim mulher em meio a agonia.

Sibilo entre dentes - com você vou em frente
Caso não queira me deixe na beira
A estrada é cheia de aventureiros
Para meus desejos escondidos.

Foto por Kauana R.

Um desabafo.

"Todo aquele que é de fato um artista deseja criar em seu íntimo uma outra vida, mais profunda, mais interessante do que aquela que realmente o cerca." Constantin Stanislaviski


Na minha infância eu fui verdadeira atriz
Era enfermeira da boneca enferma , a mãe caprichosa,
o fantasma dos meus pesadelos.
Fugi a galopes, estive aprisionada em uma torre ou manicômio,
Por anos procurei uma saída.
Mesmo aos 13 ainda sim vivia meu papel infantil:
ganhava presente no dia das crianças.
Ainda tinha cinco anos ao tocá-los.
Hoje o palco consome meus impulsos, quero vidas mil
Sem saber vivê-las:
Sou artificial e falsa.
Quero uma gota permanente do estímulo primeiro
Quero acreditar ser Ófelia afogada no rio da loucura
Ou Aurora em sua paixão sem mensura
Mas quero SER!
Quero tomar cicuta ou pular da Torre de Pisa!
Os sentimentos mais profundos transportar pelas ações.
Serestar a cada se:
Ser uma gama de possibilidades.

"Arte não dá dinheiro!"
Mundo tosco e capitalista,
Quero meus pensamentos na saliva!
Ponho o MAS e digo que dá muito mais!

Um pouco de pimenta pra adocicar meu cheiro:
- No fim quero ser parte
Das luzes
sons e frêmitos
Da alma humana.
Com aplausos ou vaias.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Bom dia seu José!

Sai um cobertor bem quente, sim?!
Hoje o dia foi de amargar! As rugas já se precipitaram...
Quero acalentar minha preguiça em um lençol de cetim:
escorregar o corpo e pesar no frio toque, mas tô vendo que tá em falta neh?!
Então sai um travesseiro de penas?!
Quero despistar o cansaço com uma noite bem dormida aceito o dia também!
Moço e tem apoio de cabeça?!
É que tô cansada de pescar apoiada no pulso...
Embeba meu tédio em aguá sanitária, é possivel?!
As páginas dos livros estão brancas demais!!!
Minha alma encardida se contorce com o alvo entre as mãos...
O sachê de ânimo já chegou?!
Ótimo, esse virá a calhar!Soma aquele litro de coragem, por favor...?
Isso! Estou quase satisfeita.
Ham?! fala sério! Só amanhã?!Mas não tem como o chefe abrir uma excessão?!
Tá bom então, fazer o que neh?!
Dá pelo menos pra arranjar um pó de guaraná ou um café já pronto?!
Endereço?! O mesmo de sempre e põe na conta, ok?!
Ufa! Ainda bem que terminam os dias!

domingo, 28 de setembro de 2008

Para Ms. Watson ou Sarah Girardi


Nariz arrebitado, saia balonê
Todos param em suas curvas!
Nos ombros os cabelos escorrem:
- Quem os ascendeu?!
Foi o fósforo do desejo.

O tipo de todo homem, digo
Mas ela jamais acredita
Mesmo diante dos fatos.

Nas esquinas invisíveis de Brasília
Sente-se de longe o seu caminhar:
Seus passos abalam o mundo
Feito rosas em seu desabrochar.

Mary Jane, dizem alguns
Em busca de teias.
Algo para se enrolar
Em rubras explanações alusivas.

Entre risos e espasmos
Parece de porcelana:
Nada frágil.
Tão pouco coisa qualquer a detém.
Caso perguntem quem é ela respondo certeira:
- Minha amiga, lógico!

Caminho contigo pequena
Nada tema
pois quando tudo faltar
Sempre haverá crepes
E litros de vodka.
Mas você não precisa disso,
Sua presença esvoaça a neblina.

Foto por Sarah G.

.:. Visceral .:.

Descansa a vontade
Descompasso incessante
Lapsos a perseguir meu ventre
Brandas chamas- o corpo clemente.

Floresço flor de laranjeira
Displicente e calma
Envelheço em rugas sábias
Assobios intempéries.

Labaredas: agonia.
Vícera ventral
A dor de arder constante
- Me corrompe.

Minh'alma cheira éter
Defunta em cinzas
Carvão e romaria

Já não sou Maria
Tão pouco imaculada.