sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Para o seu susto e meu desalento, escrevo.
Rareio minhas visitas como sempre, falo entre dentes e me calo sem respostas. Só meu corpo entende o sentido de querer te ver outra vez. Surda, muda, insensível gostaria de ser aos prazeres de sua respiração, beijo, suor ao invés sucumbo anciosa por seu abraço morno, suas vontades latentes e ironia ( daquela boa, faz rir ). De repente sou piegas demais eu sei. Descrevo impressões incertas, sentimentos vagos de uma convivência pacata e regida por " eu quero seu sexo" , íncrivel como sou pouco vulgar, mas piegas sempre.
Como explicar a insipiência diante o fato nítido? Meu lábio inferior ferido por mordidinhas quando sozinha ao longo do dia rescunhos da memória inflamam o desejo de apenas passar - por sua cama, vista, vida?
Não é nada meu bem, não é um lamento desértico, nem confissões ácidas, são garranchos de ilusão e ócio que repetem brutalmente do meu seio ao ventre o incrédulo delírio de esbarrar em seus suspiros e carne, caústico.

- Pilar Ternera pensaria em falar isso para algum de seus amantes? Me perguntei.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Passeio.

Ela.
Saia comprida, chinelo, cabelos até a cintura ( soltos, brincavam com o vento com vida própria quase), bracelete e o semblante convicto.

Ele.
O futuro ( marido, namorado, desconhecido? ) de bermuda florida que ela ajudou a escolher, chinelo, camiseta azul, olhos claros e vivos, altivo.

Mãos dadas.
A praça.
Ar turístico, uma fileira de restaurantes com garçons doidos por clientes anunciando a vastos pulmões as especiarias da casa, jatos de água em alternância em uma fonte no chão, postes antigos, algumas árvores enormes a farfalhar com a mistura enjoativa de músicas, banquinhos de ferro.

A noite.
Quente, mas com um vento faceiro, sem estrelas nem lua, iluminada apenas pelas luzes artificiais e por alguns fogos de artíficio ao longe.

A praça é pública.
Todas as raças, ricos, pobres, crianças misturadas brincando de correr.
No centro, duas mulheres e um homem pegam pequenos azulejos, unem tinta à óleo, " de gráfica" como anuncia o rapaz e apenas com dedos, paninhos e palitos de dentes desenham em minutos lindas paisagens de lugares talvez nunca visitados. Cachoeiras, noites estreladas, árvores com flores lilás e uma casinha no pé do morro, apenas cinco reais os simples e por dez fazia-se um personalizado! "Um santuário para Nossa Senhora Aparecida é personalizar?! " Ela reclamando do presente que levaria para mãe pela quantia dos dez. Talvez religião personalize pessoas.
Ela dá pulos frenéticos cantando Zé Ramalho, uma Hippie acha graça " hey, você, é você, vem aqui doida, dúvido se tu tem coragem de comprar minhas bijus hoje, pros outros tá só 59,90 reaus, mas pra tu que é muito doida fica por 10 milão. Não?! Ah, comer ainda neh?! Putz, deixa pra nóis 2 mil que te faço um trampo massa, surpresa, faz assim, dá sete, ganha o trampo e leva um brinco, fechou?! Escolhe aí. Sim a borboleta ficou maravilhosa, combina com teu cabelo, toma tá na mão. Vai usar o anel em que dedo?! Bate aí! Seu nome?! 20 mil reis?! Correeee! Peraí, quanto tenho que dar te troco, esse troço complico! Tome-lá 13 milão neh?! Falou!"
Do outro lado, pendurado numa árvore um tecido bordô abria espaço para um picadeiro improvisado e uma voz mecanizada anunciava um número de duo acrobático. Ela ficou encantada com as sequências de contorcionismo, malabares, com a roupa colorida dos palhaços e de suas piadas e principalmente do tecido, do desprendimento, força, equilibrio e leveza que o artista tem que ter para essa modalidade. " Arte é para quem quer, não para quem pode." setencia o palhaço. Um frio perpassa o corpo dela, seus pêlos eriçam, sua garganta seca, sabe que possui algum talento, iniciou faculdade de artes a menos de um ano e não sabe porquê nem para quê, só o que sente quando está no palco, a vida escorrendo em suas veias e o prazer de atuar. Ele se diverte com o resto do espetáculo, para ela acabou ali. Será dotada de coragem suficiente? Encararia enfrentar uma praça para ganhar o seu? Por amo, por prazer?

Mãos dadas. Vento, cheiro de picanha e silêncio ( de todas as dúvidas e de todas as certezas ), lá fora o barulho era intenso.

Ele voltou para casa com um sorriso de prazer.
Ela voltou para a casa dele com 17 reais a menos, um brinco de borboleta, um anel de cobre, uma imagem de N. Senhora, o sotaque da hippie ( coisa de artista em neurose ) e a questão quantas praças teria de rodar para sobreviver da arte?

" Nossa, você tá agindo estranha, o que ouve? Fala direito, amor!".
Ela enrubesceu com as palavras secas, quase um rótulo.
De perto quem é normal, afinal?

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Liberalismo ( 14/06/05)

Força eloquente aos cegos
Conluiada das lágrimas
Do povo sofredor
Marcado pela dor
Do sôfrego capitalismo
Selvagem, solene.

Força pragmática
Colarante
Brada esbraveante
"Liberdade! Liberdade!"
E trava embate
Com a justiça e a igualdade.

Força social
Força econômica
Propaga o erro
Em seu desprezo
Rejeita solidariedade

Individualismo mercantilista
Defende
O índividuo é o centro do poder!
Do desejo! Do querer!
Força - assola
Pela razão.
Tormenta desenfreada
Em busca do lucro
É libertina força
A favor da modernidade
Conseguida através do suor
- Do corpo dos proletáriados.

Cresce o liberalismo
A fome devasta
Os valores éticos inexistentes
Consomem pouco a pouco
A vida do pobre, da sociedade
Caos instalado
Mundo globalizado.